Vamos responder a esta pergunta com a maior objectividade possível.
Para o grande público, o Karaté está geralmente ligado a uma imagem de violência. A do super- homem, de mãos duras como o aço, com as quais parte tijolos e pranchetas de madeira.
Não há, de facto, nada de extraordinário nesta espécie de proeza, que qualquer homem normalmente constituído é capaz de fazer, com a condição de saber fechar correctamente o punho e de libertar as inibições psicológicas, a principal das quais é o medo.
Na realidade, estes exercícios constituem somente uma parte ínfima do Karaté.
Para todos que o praticam, esta arte marcial é mais uma arte de viver. Procura, ao mesmo tempo, o equilíbrio do corpo e o do espírito. Para atingir este objectivo, para descobrir todas as facetas do Karaté simultaneamente desporto, disciplina e arte marcial, é preciso trabalhar durante muito tempo, mesmo muito tempo.
Primeiro aspecto - O Karaté é antes de tudo uma arte marcial.
O adjectivo «marcial» vem de Marte, deus da guerra na mitologia romana. Os homens que o criaram não dispunham senão do corpo para combater inimigos armados. É o que lembra, aliás o significado literal do termo Karaté, pois em japonês Kara quer dizer «vazia» e té quer dizer «mão».
Numa época em que a paz do mundo depende da utilização de um pequeno botão vermelho não tem, evidentemente, já qualquer utilidade ensinar o Karaté aos militares para eles combaterem o invasor com as mãos vazias. Também não se recomenda aos adeptos do Karaté que ponham em prática os seus conhecimentos para «punirem» o vizinho que tem a televisão a trabalhar a toda a força.
Pelo contrário, os conhecimentos em questão podem ser-lhes muito úteis para resistir a uma agressão à traição, à noite, ao fundo de uma rua escura.
A técnica de guerra tornou-se, com o tempo, um método de combate, ou, mais exactamente, de autodefesa, pois uma das regras de ouro do Karateka (o que pratica o Karaté) é de nunca ser ele a bater primeiro; por outras palavras, se ninguém o provocou. De resto, a expressão «arte marcial» perdeu, ao longo dos séculos, o sentido literal que tinha originalmente, para passar a traduzir mais o aspecto de «método de autodefesa» do Karaté.
Disciplina de vida, do corpo e igualmente do espírito.
Disciplina do corpo porque, seja qual for a intensidade que imprimimos aos movimentos dos punhos e dos pés, o Karaté é uma cultura física muito completa, que obriga a trabalhar todos os músculos do corpo em perfeita harmonia. Uma cultura física que tem a vantagem, que não é de desprezar, de não ser rebarbativa.
Convém tanto às crianças como às mulheres e a pessoas já de certa idade, para as quais os esforços demasiado violentos nem sempre são recomendáveis.
Disciplina do espírito também, mesmo se não procuramos especialmente o estado superior que é o objectivo dos filósofos ou dos místicos mas mais simplesmente uma certa pureza, serenidade, domínio e a confiança que proporcionam os exercícios do corpo.
Seja qual for o nível de «elevação» procurado, é necessário fazermos o esforço de nos despojarmos de todas as preocupações, de toda a nossa agressividade, criar em si o vazio. O «vazio» que se encontra no «Kara» do Karaté, pois o significado do termo não é simplesmente «mão vazia» de qualquer intenção beliciosa.
Terceiro e ultimo aspecto do «Karaté»: o desporto.
Os puristas, os «ultras», consideram que a competição é uma «poluição» do espírito do Karaté na medida em que o vencedor poderá pretender ser superior ao seu adversário e não dará portanto provas de humildade.
Tudo depende com efeito da forma de aprender o Karaté e a vida: conhecem-se campeões que são modelos de modéstia e "eternos segundos " que atiram sempre para cima do árbitro, do público ou do sorteio a responsabilidade das suas derrotas.
Se é desejável não fazer da competição um fim em si mesma, pode considerar-se contudo, que ela é de certo modo "o minuto" da verdade que permite fazer o ponto, perante um adversário cujo estilo pouco importa medir aquilo que se aprendeu e o que falta aprender... Mesmo se ganhou.
A perfeição não existe no Karaté ela afasta-se sempre um pouco mais á medida que dela nos aproximamos.
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